Capítulo 15
Claryce me encarava, com os olhos arregalados, sentada no canto do quarto, lágrimas pingavam de seu queixo e paravam no chão de madeira podre que logo absorvia suas lágrimas.
O homem repousava no chão, pedaços de seu cérebro grudados na madeira, na parede, na minha clava e em minhas mãos, o sangue já havia coagulado.
A luz fraca de uma vela era a única coisa que iluminava o quarto de paredes amareladas, na rua todos olhavam para a janela, que logo fechei junto das cortinas.
Claryce estava além de completamente assustada, estava extremamente corada, percebeu que havia descoberto seu segredo, era uma prostituta.
— Eric? — Ela disse, tentando se afastar mais de mim, porém a parede a impedia.
— Sim? — Respondi, a encarando.
Ela não disse nada, mas levantou-se e continuou no canto.
Eu fechei a porta, sabia que deveria me confessar e me explicar para ela, era a única que confiava, mesmo que isso a fizesse abominar-me e a fizesse denunciar-me.
— Sente-se. — Eu disse apontando para a cama. Claryce sentou-se, sem tirar os olhos de mim. Larguei a clava no chão, que emitiu um barulho de madeira o qual ecoou pelo quarto minúsculo.
Sentei em uma cadeira em seu lado e comecei a falar:
— Claryce, é preciso um esclarecimento.
— S-Sobre o que? — Ela disse tremendo.
Irmãos, nesse momento eu realizei algo que nunca pensei que realizaria em minha vida de crimes e assassinatos.
— Pois bem, te direi. — Eu disse me ajeitando na cadeira, mas logo empalideci, de chofre levantei da cadeira e comecei a andar pelo quarto.
— O que há contigo? — Disse Claryce, assustada. — O que você tem?!
— Não é nada. Não te assustes.. — Balbuciei. — Eu vou falar.
— Como você se atormenta, Eric!
Meu corpo tremeu subitamente.
— Eu vim para te dizer, Claryce. Me confessar.
— C-Como?! — Claryce estava confusa.
— Sabe, há 3 semanas atrás, apareceu na gazeta, um jovem esfaqueado e morto no banheiro da biblio-pública, não?
Claryce calou-se.
— Não?! — Perguntei aumentando o tom, tirando as minhas mão da cabeça e batendo contra minhas coxas, chamando sua atenção.
— Eu vi isso, passou também na televisão seguido de.. Outros crimes parecidos. — Ela disse secando as lágrimas. — Acaso o assassino foi encontrado?
— Não, Claryce. Não o encontraram, mesmo que ele passeia pelas ruas vagando, ele é um fantasma. — Disse empalidecendo e abrindo um sorriso.
— C-como você sabe disso? — Perguntou baixo.
— Adivinhe. — Pronunciei com um sorriso torto, eu ainda estava pálido.
— Você está me assustando, Eric! — Ela pronunciou, as lágrimas pareciam voltar a rolar.
— Sou dele um grande amigo. — Prossegui. — Aquele nerd, não abriu a porta quando foi ordenado.. Então ele o matou.
Passou-se um minuto de silêncio, sem desviar o olhar.
— Como sabes disso?! — Ela falou alto.
— Adivinhe. — Perguntei, ainda sorrindo.
— N-Não consigo! — Ela murmurou.
Eu vi em seus olhos o mesmo horror de minhas vítimas, as mãos trêmulas, os olhos cheios de lágrimas, implorando por piedade.
Lembrei da expressão da mulher muda a qual abusei e degolei, enquanto eu fazia isso, minha mãe pendurava-se.
Lembro que ela me encarava com um sentimento único de medo, o medo de quem realmente não pode fazer nada. Ela me viu degolar sua filha e penetrar o crânio de seu marido com uma furadeira provavelmente comprada pelo mesmo.
Ela não gritava, apenas encarava com aquele medo absolutamente real estampado em seu rosto. Olhava imóvel para o objeto que havia destruído sua vida em uma noite.
A mesma coisa estava acontecendo com Claryce, olhou para mim com o mesmo espanto, começou a se encolher na cama tentando se afastar.
— Adivinhou? — Sussurrei.
Calou-se, ela já sabia de tudo mesmo sem eu ter falado, foi como um tiro.
— Meu Deus! — Ela sussurrou levantando se da cama, as lágrimas rolavam em seu rosto pálido, estava em minha frente.
Apertou minhas mãos com os dedos finos e delicados, fixou o olhar em mim, não estava mais com medo, mas estava espantada.
Ela foi para o meio do quarto, olhou em meu rosto e estremeceu. Deu um grito e lançou-se sobre mim, apertando meu pescoço em um abraço.
— O que fizestes consigo! — Ela disse desabando em choro. — Por que fizeste isso?!
— Eu não matei apenas ele. — Eu disse, diferente dela, eu estava sorrindo, mesmo pálido.
— Quem mais mataste, Eric?! — Ela perguntou em prantos.
— Eu matei ao menos 20 pessoas. — Claryce ajoelhou-se e tocou a cabeça no chão, chorava alto.
Depois de 2 minutos chorando, comigo imóvel, ela sentou-se na cama e pegou um copo de água já morna que estava no criado-mudo.
Estava completamente pálida e contrastava com a luz fraca amarela da vela, que enfraquecia e logo tornava-se potente. Ora a luz era forte, ora fraca.
Fez o sinal da cruz em si própria e tomou a água.
— Eric, você precisa arrepender-se! — Ela disse secando as lágrimas.
— Você se preocupa com isso? — Eu disse rindo. — Não vai me deixar nem denunciar?
— Não! Nunca! Você precisa de ajuda! — Ela disse colocando o copo vazio no criado-mudo.
— Por que fizeste isso, Eric? — Ela alternava entre calma e em prantos em poucos segundos, incrível.
— Pois se não o fizesse, deixaria de existir.
Calou-se.
— Sem contribuição, Claryce. A existência é completamente fútil. — Claryce assustou-se com a palavra contribuição sendo utilizada neste sentido.
— C-Como assim deixaria de existir?! — Ela chorava, confusa.
— Eu deixaria de existir, simples. Eu não seria mais um ser existente, eu seria como todos aqueles que vivem sem um motivo, esses não existem.
— E-E-Estás brincando! Isso não faz sentido! Fale a verdade! — Ela gaguejava. — Matou para saquear, não foi?!
— Não.
— C-C-Confesse-se, Eric! Entregue-se! — Ela ajoelhou-se diante de mim e começou a implorar.
— Confessar a quem? — Eu disse rindo.
— À polícia! À um padre! Você vai pro inferno caso não se arrependa! — Ela me implorava.
— Claryce, não irei confessar-me. Irei ao inferno, porém, estarei mais vivo que todos os homens.
A porta rangeu, logo virei a cabeça, olhos azuis me encaravam, fiquei imóvel.
Os olhos desapareceram, peguei a clava do chão e corri em direção a porta.
— Não! — Exclamou Claryce chorando e se jogando no chão. — Mais uma vida não!
Cheguei ao corredor, a testemunha era idosa, não havia chegado na escada ainda, corri e a virei. Era Mary, mãe de Claryce.
Ela me encarou com medo, Claryce havia rastejado até a porta, viu que era sua mãe, Mary a encarou, desviando o olhar para mim, que a segurava pela gola do vestido vermelho.
Eu a joguei contra a parede, fazendo-a gemer alto.
— Não! Não, por favor! — Claryce gritava e chorava.
Eu estava no meio do corredor, Claryce estava observando a cena ajoelhada na porta do cubículo e Mary estava sentada no chão gemendo. Eu pensei em matá-la com um golpe de clava, porém olhei para Claryce.
Seus olhos vermelhos de tanto chorar, o rosto inchado e machucado, as roupas rasgadas, implorando para que eu poupasse sua mãe.
Então voltei ao quarto, com Claryce, e Mary sumiu.
Irmãos, ficamos ao menos uma hora conversando, ela chorava, me abraçava, me beijava e me implorava para confessar meus crimes para a polícia.
Ela me benzia com o sinal da cruz e jogava água benta em mim, rezava o terço e me obrigou a rezar junto dela.
Eu a prometi que confessaria, mesmo sabendo que nunca realmente faria isso em toda minha vida.
Ela me levou até meu apartamento, emprestei um vestido da minha falecida mãe à ela, para que ela pudesse voltar para casa.
Eu deitei em minha cama e adormeci.

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