Parte 3
Capítulo 24
“Ave Maria gratia plena
Dominus tecum
Benedicta tu in mulieribus
Et benedictus fructus ventris tui, Jesus
Sancta Maria, Mater Dei
Ora pro nobis peccatoribus
Nunc et in hora mortis nostrae”
Prenderam-me em uma sala com tijolos brancos nas paredes, o chão era de concreto, eu sentia o concreto raspando em meus pés nus, haviam retirado-me as botas e o sobretudo.
Eu fui da casa de Claryce direto para essa sala, que ficava em uma delegacia próxima de Meadow.
Aqui começa a parte mais triste da história, Irmãos. Eu fui interrogado, não falei nada e, por isso, fui agredido, até que um advogado público chegou para me auxiliar no interrogatório.
Os vermes colocaram algemas nos meus pés e nas minhas mãos, sabiam que eu era um criminoso em potencial, eu vi um policial comemorando por ter me capturado, ele com certeza realizou que eu cometi todos aqueles crimes. Acendeu um cigarro e riu para mim, enquanto o outro porco me colocava dentro da viatura.
Eu não presto nem para me matar, eu podia ter muito bem enfiado a faca no meu pescoço ao invés de ter arrastado, o corte foi raso e coça muito, não posso aliviar a coceira por que um daqueles gambás prendeu minhas mãos nas minhas costas.
Atrás de mim, ao menos 5 viaturas. Pelo visto me procuravam faz tempo, pois eu ouvi o policial que conduzia a viatura comigo dentro avisando a todos do batalhão que haviam me pegado, me chamavam por um nome tosco, aqueles que dão à assassinos na qual o paradeiro é desconhecido.
Algo relacionado a Londres, sei lá! Assassino de Londres, Carniceiro de Londres, não sei! dane-se!
O asfalto esburacado me fazia chacoalhar dentro do porta-malas da viatura, ele tinha janelas, eu podia ver todos os outros carros atrás.
Podia ver as luzes amareladas dos postes, os gatos de rua, o vento balançando as folhas.
Em fúria comecei a bater a cabeça contra o vidro da viatura, queria escapar dali, dar um jeito de acabar com tudo.
Em nada deu, apenas em um sangramento na testa, que escorria pelo meu rosto e pingava do meu queixo, e uma dor terrível.
Chegamos na delegacia, me puxaram com força pelas algemas e me fizeram caminhar devagar até dentro da sala, rindo de mim.
Eu caminhava devagar para não tropeçar, aquelas algemas em meus pés dificultavam tudo.
Atravessei uma sala cheia de computadores, atrás deles, policiais, que me encaravam com ódio.
Passei por algumas celas, os presos com uniformes laranja riam de mim, eu sentia que todos me observavam.
Então, me jogaram naquela sala de tijolos brancos, junto de mais 2 policiais, tentaram me interrogar, mas eu não disse nada, sei dos meus direitos.
Eles me chutaram e cuspiram em mim, devido a falta de força — Estou já há um dia sem comer — Não pude reagir, deixei que me batessem.
Um homem obeso, de terno, na qual os botões quase explodiam, os cabelos grisalhos, o rosto avermelhado com a aparencia britânica entrou na sala, me estendeu a mão e fui até a ele para um quarto cinza, havia uma mesa e duas cadeiras em cada lado.
Enquanto ele se ajeitava na cadeira, eu pensava comigo mesmo: Agora estou sozinho, estou por mim mesmo.
— Acredita em Deus, jovem? — Perguntou tirando um caderno de sua bolsa.
— Não.
— Vai precisar dele. — Ele suspirou. — O seu caso é complicado.
— É o meu fim, não é? Estou morto.
— Bem, eu não sei lhe dizer, filho. Mas de que importa? Me disseram que tentou se matar antes de ser detido.
Levantei minha mão para que o advogado visse, estava vermelha, meu braço também estava coberto de sangue coagulado.
Eu estava tremendo, meu corpo não estava suportando mais tanta dor.
— Atiraram na minha mão quando tentei enfiar a faca no meu pescoço. — Eu disse, com a voz trêmula.
— Você possui algum distúrbio mental? — Ele perguntou, quase que com nojo.
Não respondi, apenas o encarei. Ele me provocava raiva, eu não quero um advogado, eu não quero defesa. Eu mereço a morte.
Depois de um longo silêncio, perguntou:
— Seus registros são pesados, filho.
Eu tremia. Não de medo. Tremia por estar vivo. Por ainda estar ali. Cada célula do meu corpo queria desaparecer, mas o sangue insistia em continuar circulando.
— Tem noção do que fez?
— Sim.
— Quer contar?
— Já contei à Holderlin. — Olhei para ele como se esperasse que isso significasse algo.
— Quem?
— Sei lá.
Ri. Um riso curto, seco, seguido de uma tosse seca. Ele fez uma longa anotação.
— Vou precisar de tudo. Todos os nomes, datas, lugares. Não há câmeras aqui. Essa sala é sua última chance de ser ouvido antes de ser julgado como um animal.
— E se eu for um animal?
Silêncio.
— Já pensou na possibilidade de o monstro que procuram ser apenas o resultado da negligência?
— Meu nome é Doutor Oliver. Vou fazer o possível. Você será analisado por um psiquiatra, e o juiz vai decidir se você é doente ou uma besta.
— Qual das opções me darão mais silêncio?
Ele não entendeu. Fechou a pasta.
— Até lá, mantenha-se vivo.
Ele se levantou. Foi até a porta. Antes de sair, hesitou.
Tentou falar algo, porém, nada saiu. Deixou a sala.
Fiquei sozinho.
Amanhã serei fichado, medicado, empurrado para uma jaula com outro nome, outro número. Mas hoje, aqui, ensanguentado, doente, a garganta seca e carregando a vida de minhas vítimas, ainda sou eu. Um erro.

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