Capítulo 8
Eu tive um sonho no meu sono da tarde, eu estava num lugar com cores extremamente fortes e que se mexiam e dançavam, eu não tinha um corpo, apenas um rosto.
Tinham vários olhos me observando nos cantos daquele local, onde não haviam manchas de cores, era um preto profundo.
Tinha um coração vermelho no topo daquela “sala”, estavam saindo chamas de suas válvulas e havia rosas ao redor dele. Aquele coração brilhava e os raios cegavam meus olhos.
De repente, a mulher que eu estuprei e matei estava ali, na minha frente.
O corpo dela estava podre, tinha a marca dos puxões e socos que eu a dei, também tinha a abertura do corte, que estava sempre sangrando e jorrando.
Ela me encarava com os olhos extremamente vivos, mas ela estava morta. O coração dela foi puxado por alguma força além da minha compreensão, e esse coração veio direto na minha boca.
Sem consciência eu estava mastigando e engolindo aquele pedaço de carne, enquanto aquelas cores psicodélicas estavam girando e aquele coração exibindo seus raios.
— Suas chances estão se esgotando. — Disse uma voz indescritível — Está por sua conta.
Eu acordei, o crepúsculo já havia passado pois estava completamente escuro lá fora. Eu dormi demais e esqueci de armar o despertador.
No relógio são 23:10, eu dormi muito mesmo. Que decepção, eu perdi um dia inteiro.
Eu levantei, peguei a pistola que roubei daquela família maldita que até hoje me assombra e um bucado de balas e saí da construção em direção a Astastheran 16. Arrumarei algo para comer e arrumar briga com um velho caquético qualquer. Eu estava com as mesmas roupas, uma calça jeans, minhas botas novas, uma camisa preta e um sobretudo preto. Dentro do sobretudo eu carregava uma pistola municiada e um pouco de dinheiro, nada mais.
A distribuidora de bebidas estava cheia, hoje é feriado, os velhos proletas estão aproveitando suas 24 horas de descanso para encher a cara mesmo sabendo que no dia seguinte serão feitos de escravos, clássicos robôs.
Na calçada, um homem tipo árabe vendia Kebabs fincados em espetos.
— Senhor, quanto é um desses?
— Uma nota, garoto.
Tirei uma nota do bolso e afundei na mão parda dele, ele me retribuiu com aquela carne.
Na primeira mordida que foi em cima, eu senti o gosto de carne gordurosa misturada com pimenta, eu não gostei mas vai matar minha fome.
Eu me enfiei em um beco e me escorei por ali, o beco era do lado de um bar, tinhas umas lixeiras verdes e uma escada para a porta traseira do bar.
Segunda mordida, talvez não seja tão ruim, o gosto melhorou. O beco não tinha saída, é um ótimo lugar para matar alguém, daí é só jogar na lixeira o corpo.
Eu estava escorado na parede quando um sujeito apareceu na entrada do beco, ele analisou se tinha alguém e então entrou em passos brutos de bota. Eu não conseguia ver o rosto dele por conta da luz do poste que fazia ele se tornar uma grande sombra, mas pela estatura parecia jovem como eu, ouvindo aqueles passos em minha direção eu puxei a pistola e escondi ela no bolso externo, empunhando-a.
Sem dizer nada, aquele homem tirou uma adaga grande de uma bainha de couro que estava pendurada na jaqueta dele, andando até a mim, pensando que eu sou um qualquer.
— Parado ai, loirinho.. — Ele disse, ele tinha a voz um pouco mais fina que a minha, ou ele tinha uma testosterona incrivelmente baixa ou ele era mais novo. — Tem o que aí nos bolsos, hein?
Eu me virei para ele, tirando a pistola mas deixando ela ao lado do bolso. Aquilo era uma cena de duelo, quem vai matar o outro primeiro?
— Eu não sou um sujeito comum, meu jovem. — Eu disse batendo a bota no chão, me virando pra ele. — Venha e tente me matar se for corajoso.
— Colega, com essa adaga eu matei mais de 6 pessoas só neste mês.. — Ele disse dando um risinho, finalmente um oponente digno.
— Justo, caso deixe de ignorância podemos conversar. — Eu disse tentando amenizar o clima. — Mas caso continue com essa falta de respeito, vou deixar seu rosto igual a uma peneira.
Ele pareceu muito irritado com o que eu disse, ele partiu pra cima de mim rosnando e pronto pra me atravessar com aquela adaga.
Eu desviei pro lado, ele acertou de raspão meu ombro que fez um pequeno corte. E então, agora que estamos de lados opostos eu vi o rosto dele. Jovem como eu, o rosto harmônico e liso como de uma mulher. Sem tempo para analisar eu dei um chute na coxa dele, dois. Ele tentou enfiar a adaga em mim me puxando pelo ombro mas eu dei uma coronhada na cara dele, o que fez o nariz dele jorrar sangue.
Em um golpe rápido eu enfiei a pistola no sobretudo e dei uns 3 socos na cara dele, fazendo ele desabar no chão, joguei a adaga pra longe.
— Não vou te matar, você é como eu.
— C-C-Como assim?! Seu viado! Me mata logo de uma vez! — Ele disse irritado. — Me mata! Me mata!
— Cresceu em um ambiente violento, não é? Aposto que seus pais nunca te ajudaram com seus demônios internos, garoto.
— Para com essa bobeira! Dá um tiro na minha cara! — Ele disse chorando, mas isso confirmava o meu ponto.
— Eu não vou atirar, eu sei como se sente. Qual o seu nome?
— J-Jasper. — Ele disse desviando o olhar, ele tava sentado arregaçado no chão e eu estava em pé na frente dele.
— Me diz, Jasper. Você queria meu dinheiro ou queria minha vida? Talvez você é como eu, não quer o bem material, quer o sentimento de poder sobre o próximo.
— E-Eu ia te matar! E-E-E Eu vou te matar! — Ele dizia, com voz de criança, chorando envergonhado.
— Jasper, eu sei como se sente. Entre todos no mundo você é o mais parecido comigo.
Jasper corou um pouco, ele tentou se levantar mas o ferimento na coxa não deixou.
O rosto dele era bonito, ele tinha os olhos verdes e parecia muito uma mulher. Mas o cabelo era curto e castanho, liso.
Ele estava usando uma calça preta, botas de couro, uma camisa branca e uma jaqueta de couro marrom.
— Eu sei por que se sente assim.. Eu sei por que odeia o mundo.. Eu também me sinto assim e também odeio o mundo.. Talvez você possa.. Ser meu amigo? — Eu disse, oferecendo pra ele enquanto o estendia a mão para se levantar.
— C-Claro.. Eu.. Eu pensava que ninguém tinha o mesmo sentimento que eu.. Essa.. Esse sentimento de injustiça.. — Ele disse se levantando. — Sabemos.. O que fazer… Já queimamos.. Todas as pontes.. Vamos.. Terminar o que começamos..
— Onde você mora, Jasper?
— Eu moro na esquina do beco L’Écorce.. Eu.. Eu já te vi lá.. Você tinha caído perto de.. Uma senhora.
— Eu moro por ali, bem.. Vou te ajudar a chegar em casa. — Ele se apoiou no meu ombro e então eu ajudei ele a chegar no beco.
— Q-Qual o seu nome?
— Eric, Eric Valmont.
— Eric, você é meu primeiro amigo.
Eu não respondi, após dizer isso ele entrou num edifício de dois andares, amarelado e sumiu lá pra dentro, pretendo chamar ele amanhã.
Ele é apenas uma criança.. Antes parecia durão e em um momento.. Estava chorando de vergonha..
O mundo não é pra ele.. Ele é só uma criança por dentro.. Ele não merece isso.
Ele gagueja muito, provavelmente nunca falou de verdade com alguém.. Eu sinto pena dele. Deve ter sofrido muito.
A noite continua.

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