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Melancólico e misantropo

sexta-feira, 28 de março de 2025

O Errante - Capítulo 12 - 29/05/25

 Capítulo 12


Ao chegar na frente de meu apartamento, uma surpresa agradável. Jasper me esperava na portaria, sentado numa poltrona, jogado com as pernas cruzadas. Como estava de dia, agora conseguia ver melhor sua aparência, era um pouco mais escuro que eu, olhos verdes, rosto incrivelmente liso, o cabelo castanho, um pouco menor que o meu, quase liso porém não completamente. Estava com uma calça preta o dobro de seu tamanho, amarrada na cintura por um cordão preto. Botas de couro apertadas, com um belo salto, o que o deixava mais alto. Uma camisa de banda, “Ramones” escrito em cima e um brasão no meio. Um colete jeans largo, parecia ser uma jaqueta mutilada, com várias insígnias e símbolos, eu reconhecia apenas alguns, como um crânio e um “A” atravessando um círculo, haviam vários símbolos que eu não compreendia. Também dois braceletes com espinhos.
— Saudações, caro amigo. Está a quanto tempo me esperando? — Eu disse me aproximando e estendendo-o a mão, no mesmo instante ele sorriu e se levantou, apertou minha mão e respondeu:
— Cheguei há poucos instantes, meu caro irmão. — Ele era um pouco mais baixo que eu, como um irmão mais novo. — Vim te chamar para a gente brincar um pouco, agora a luz do dia. Estava pensando em ir à praça. — Ele disse puxando o colete, mostrando sua adaga, eu não a vira completamente na noite passada, era um tipo de adaga medieval longa, não tão longa como um facão mas não tão curta como uma faca tradicional. A lâmina era escura e um pouco torta, extremamente afiada, eu podia ter morrido com uma mínima pressão dela em mim noite passada. 

O cabo era preto e de um material tipo madeira polida, havia uma pedra no final do cabo, algo muito chique, acredito que para matar não se precisa de uma arma tão bonita dessas, se eu tivesse uma, teria dó de sujar com sangue.
— Eu nunca negaria um convite desses. Venha, trocarei de roupa. — Disse subindo as escadas e simbolizando com as mãos para ele vir comigo. A escada ecoou o som de suas botas pesadas por toda a portaria. O conduzi a minha casa e abri a porta:
— Fique à vontade, a casa é sua. — Disse abrindo espaço para ele, ele sorriu e entrou, ficando parado no meio da sala. — Aceita água? chá? vinho?
— Eu aceito água, meu irmão. — Ele disse de forma gentil, fui até a cozinha e enchi um copo d’água, entreguei a ele e fui até o quarto trocar de roupa.
Calça jeans azul, minhas botas militares novas, que comprei poucos dias antes do velório de minha mãe, uma camisa social branca, uma jaqueta bomber preta e o velho quepe-boina que eu pegara há semanas.
Peguei também uma arma, era um porrete como uma clava militar, ela repousava no meu armário, roubei-a de um colecionador de artefatos. Nunca a usei e nem prestei atenção ao pegar, apenas enfiei na bolsa junto com dinheiro e algumas moedas prateadas do século passado. O cabo de metal enferrujado e preto, envolto num couro escurecido. A cabeça da arma, um cilindro de aço com cravos.
Quando toquei o cabo, tive um sentimento que não sentira ao segurá-la pela primeira vez, na pressa. Eu senti a vida de quem a empunhou antes de mim e quantos ossos partiram por conta desse aço rígido e pesado.
Não era uma arma refinada e elegante, como aquela adaga de Jasper. Ela existia para esmagar e reduzir qualquer resistência à ossos quebrados.
Fiz um furo na parte interna da minha camisa e coloquei um cadarço, amarrando a clava por dentro.
Saí do quarto, Jasper estava na janela, apreciando a vista. Assustou-se com uma batida de bota no chão e me olhou, parecendo gostar do meu visual. Abri minha jaqueta com a mão e mostrei a clava amarrada.
— Eita.. — Ele disse, admirando a clava como uma criança. — Hoje tem!
Abri a porta do meu apartamento, pela primeira vez, eu vi uma das portas abertas, não só uma como duas.
Haviam duas pessoas no corredor, um senhor de meia-idade, branco e gordo. Conversando com ele, uma mulher negra com um roupão, quando ouviram o passo das nossas botas, se assustaram e nos encararam. Fechei a porta do meu apartamento lentamente, encarando eles, Jasper fazia o mesmo.
Lentamente me aproximei deles, caminhando com as mãos no bolso, e parei pisando com força no chão, para que eles ouvissem minha pergunta:
— Boa tarde, vizinhos. Sobre o que estão falando? — Eu e Jasper éramos extremamente altos em comparação a eles, ambos no auge da idade.
— Não te interessa, moleque. Eu te conheço, você que fez aquela confusão na igreja. — Disse o homem, tentando mostrar que não estava com medo, a mulher negra ao lado dele concordou com a cabeça.
— Interessante como as pessoas adoram falar do que não entendem. Você estava lá? Ou só repete o que ouviu como um bom papagaio? — Jasper gostou da minha resposta, me olho de canto com um sorriso discreto.

— Eu estava lá! — O senhor disse se exaltando e se aproximando, tentando impor seu poder. — Eu vi tudo que você fez, e eu vi como chamou o esposo da madame Margaret.
— Calma aí, velhote! — Empurrei sua cabeça, ele quase caiu pra dentro de seu próprio apartamento, mas se segurou na maçaneta. A mulher foi ajudar. — Frágil, não é? — Disse Jasper rindo. — Quer matar ele? — Jasper sussurrou segurando o riso, mas de forma que o senhor possa ouvir.
No mesmo instante o senhor ficou paralisado em pensar na sua vida sendo jogada fora por conta de uma leve discussão, sabia que tínhamos potencial para matá-lo e matar a mulher que estava presenciando tudo sem piedade.
— O-Oque?! — Ele disse se afastando, me encarando nos olhos, seus joelhos tremendo sob o peso do medo. Engoliu seco. — C-C-Como assim?! — Disse paralisado, o olhar passando de mim para Jasper.
— Ué, senhor. Estou brincando! — Disse Jasper de forma divertida. — Ou talvez não. Quem poderia dizer?
Caímos na risada, porém, mantendo a postura.

— Não precisa se desesperar, senhor. Só quero que pense um pouco antes de sair falando besteira por aí. Nunca se sabe com quem está lidando.
O silêncio reinou no corredor. A mulher apertou o braço do homem, murmurou algo. Ela entrou no mesmo instante, o homem esperou uns 5 segundos.
— Está esperando o que? Velhote. — Disse levantando o punho, ele tremeu e recuou. Num movimento rápido, bateu a porta na nossa cara.
Jasper soltou uma risada curta, quase infantil.
— Isso foi divertido. — Disse.
Dei de ombros, sentindo satisfação. Seguimos nosso caminho para a praça, cortando e esbarrando no público sem piedade. Em direção a praça pública, onde ficam todo tipo de escória.
Enquanto caminhávamos pela calçada, em uma parte do caminho onde não havia um fluxo alto de pessoas, a mente vagando sobre o que acabara de acontecer com os vizinhos, quando ouvi o som de sirenes. Nada incomum, mas o sangue correu rápido nas minhas veias, e muito mais rápido nas de Jasper, que com certeza não estava acostumado.

O carro de polícia aproximou-se devagar. O policial ao volante virou a cabeça e olhou fixamente para nós, foi então que me lembrei do incidente da igreja. Será que ele me reconheceu e irá me abordar por isso..? Hm..

Eu estava sério e pensando nas minhas próximas ações. Jasper, por outro lado, estava se divertindo, segurando a risada. O verme não hesitou, saiu da viatura e ficou parado na nossa frente. Seus olhos se fixaram em mim, não havia pânico, eu consigo esconder muito bem minhas emoções, diferente de Jasper, que estava tremendo e quase explodindo do meu lado.
— Tudo bem por aqui? — O milico disse, nos encarando.
— Positivo senhor capitão senhor. — Eu disse, foi a gota d’água para Jasper começar a rir descontroladamente. O policial encarou Jasper de forma que fez a risada cessar na hora.
— Eu tenho cara de palhaço? — O policial falou furioso.
— Deixa ele, é meu irmão mais novo. Ele tem uma condição rara, igual o.. Coringa. — O ar dos pulmões de Jasper começou a sair numa gargalhada descontrolada.

— Vocês tem quantos anos, seus moleques?
— Eu tenho 14, meu irmãozinho Jasper tem 13. — Menti, eu tenho 16 e Jasper tem 15. — Estamos apenas passeando.
E então, em um movimento quase imperceptível, ele olhou para o relevo em minha blusa e no colete de Jasper. Não parecia surpreso. Sabia o que poderia estar ali. Mas, ao invés de dar a ordem para revistar, deu apenas um aceno de cabeça, como se a visão de um perigo iminente fosse o suficiente para fazê-lo decidir que não queria problemas naquele dia.
— Hmm.. Boa tarde e bom passeio. Tomem cuidado com os bandidos, juízo.
Ele entrou na viatura e seguiu o caminho sem mais um olhar.
— Viu? Só é preciso saber como fazer isso. — Eu disse dando tapinhas no ombro de Jasper, estávamos andando em direção a praça. — Assim ninguém ousa nos tocar. Quem tocaria em duas crianças?
Jasper apenas balança a cabeça concordando, chegamos na praça, é imensa. Nunca ouvi falar dessa praça, a grama é verde, uma estrada de terra nos conduz para os pontos principais. Um lago, um playground, tendas e etc..

Há bancos por toda a praça, bancos de madeira com hastes de ferro, neles, pais e mães, avôs e avós, namorados, e algumas pessoas solitárias.
Caminhamos pela praça, lentamente, sem pressa procurando nossa próxima vítima. O sol vai demorar para se pôr, ainda são 15:30. As crianças no playground brincam e riem, alguns jovens estão mexendo em seus aparelhos móveis, nunca tive um e nunca tive interesse em ter. Do outro lado da praça, um grupo de jardineiros podando a grama com uma máquina, e bem na frente, um grupo cheio, como uma alcateia de jovens.
Eles nos avistam e murmuram entre si, Jasper percebe e me olha de relance com um olhar divertido, me indicando que algo está por vir.
A gente fica frente a frente com o grupo, um rapaz forte, que parece ser o líder, toma a posição e fica em nossa frente com os braços cruzados. Os jovens atrás dele começam a se mexer, trocando olhares, o clima é tenso.
— Qual foi, viadinhos. Quem ‘cês’ pensam que são para andar relaxados desse jeito na nossa praça? — Ele disse provocando, Jasper fica quieto, observando. Ele sabe que eu sou o que precisa lidar com a situação.

— Qual é, sua vadia? Vai vir com essa conversa aí? Você acha que eu tenho medo do seu cardume?
O líder avança sem pensar e sem se defender, ele provavelmente irá me atacar se eu não pensar rápido. Antes que algo aconteça, eu reajo de forma explosiva. Dou um passo rápido para trás e, sem aviso, disparo um chute forte com a ponta da minha bota em seu nariz.
O golpe é certeiro, o som do impacto na carne ressoa pela praça, o líder ficou paralisado por uns 3 segundos, o nariz desconfigurado e sangrando. Caiu no chão da praça, os jovens morrendo de medo, olhando para o mais forte do grupo derrotado, Jasper boquiaberto. Os jovens paralisados sem saber o que fazer, o líder está imobilizado e em estado de choque, os amigos olham para ele e depois para mim e depois para Jasper.
— Hoje não é seu dia, amigão. — Jasper diz, encarando o líder nocauteado.
— Alguém tem algo a dizer? Fale agora ou cale-se para sempre. — A única coisa que se ouve é o sangue escorrendo como cachoeira, as máquinas e as crianças. — Que seja.
Continuo caminhando junto a Jasper, ouço os jovens ajudando o líder, mas ele não possui o mesmo carisma de antes.
— Isso foi irado! — Jasper diz animado olhando para mim.
— É só o começo, irmãozinho.

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